segunda-feira, novembro 03, 2008

O inferno é o vazio


Ontem deliciei-me com a homilia do Padre Jesuíta Carlos Carneiro. A propósito da celebração do dia dos Fieis Defuntos, falava ele sobre a razão da morte e da vida. Questionava o que é viver e o que é morrer. Lançava propostas de reflexões pessoais, “não interessa tanto se morremos ou não, mas sim se vivemos ou não. Interessa percebermos há quantos anos estamos mortos e não há quantos anos estamos vivos”. Questionava a ânsia de muitos de nós querermos acrescentar anos há nossa vida, perguntava “Para quê?”. A assembleia sorriu... Depois falou do medo da morte, do pânico com que encaramos a morte de alguém querido, e voltava a lançar uma questão: “temos de nos questionar será que a pessoa que morre, morre mesmo ou será que nós que vamos ao seu funeral é que muitas vezes nos encontramos mortos”, e a assembleia calou-se e os olhares cruzaram-se. Tanta questão interessante para levar para mais uma semana, a questão da vida e da morte... Concluiu a homilia com a noção de inferno e céu, não como espaço geográfico, mas sim como espaço espiritual... disse ele “na minha opinião e na opinião de alguns teólogos o Inferno existe, mas está vazio (...) a misericórdia de Deus é infinita, todos acolhe, nós temos a liberdade de escolher.” O riso foi generalizado...

Transcrevo aqui um excerto de um texto que me pareceu bastante interessante... e levo para esta semana, uma questão pertinente: “Quantos anos de morto tenho eu?”.

“Um teólogo muito citado por João Paulo II, Hans Urs von Balthasar, dizia que o inferno poderia ser um lugar vazio, pois a misericórdia de Deus é mais forte que o pecado humano.
Uma perspectiva simpática, mas que levanta outros problemas. "Em última instância, a vida humana seria um jogo aparente, porque Deus acabaria por nos salvar a todos", explica João Duque. Para os que defendem esta perspectiva, "a força dos que querem a salvação é tal que ela irradia para outros". E Deus, neste caso, pode ser uma opção implícita: "Ao agir pelo bem, a pessoa estaria a fazer, em certo sentido, uma opção por Deus."
E o que é a salvação? E quem se salva? O professor de Teologia Fundamental diz que há vários marxistas e não crentes que têm feito esta pergunta: "Devemos admitir que os algozes e vítimas da história humana fiquem assim para sempre?" Para os que fazem tal pergunta, "o julgamento da História não é suficiente, pois nunca conseguirá restituir a verdade às vítimas".
Nesse sentido, "só Deus pode trazer a verdade ao de cima", diz João Duque. Questão diferente é saber se esse reconhecimento "implica ou não uma condenação eterna". Será esta, enfim, uma questão como a de saber o sexo dos anjos? "Tudo o que é um discurso sobre o além é para estar calado", afirma o teólogo. "A única questão é o efeito que isto tem ou não sobre a vida real. Joga-se aí a perspectiva que cada um de nós tem sobre o que é ser humano."
João Duque insiste: "Se não existe possibilidade de fazer algo contra Deus, então não há verdadeira liberdade. O tempo que vivemos é o tempo em que jogamos algo de verdadeiramente importante." “

Boa semana...

Beijos e sejam felizes...

2 comentários:

Anónimo disse...

Ontem reparei em ti. Espero que te veja mais vezes ao domingo, já te inscreveste nas comemorações do Ano Paulino?
Beijo.

Anónimo disse...

Excelente texto. Que bela perspectiva da vida,... ou será da morte?
Estás a escrever cada vez melhor!
beijo