quarta-feira, novembro 12, 2008

Como é que se esquece alguém que se ama?


“Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver?”

Segundo a receita do Miguel Esteves Cardoso é:

“Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre.”
“ É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou de coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer ninguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procurar evitar o luto, prolonga-o no tempo. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída. É uma dor que é preciso, primeiro, aceitar.”
“O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos, amigos e livros e...copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar.”

Mas como esquecer então?
Como deixar acabar aquela dor?

- Novamente vem o conselho: “É preciso paciência. É preciso sofrer. É preciso aguentar.”

“As pessoas morrem, magoam-se, separam-se com a maior das facilidades. Para esquecê-las, é preciso chocá-las primeiro.”

E agora vem o mais importante -- quanto a mim, claro! – “Para esquecer uma pessoa não há vias rápidas, não há suplentes, não há calmantes, ilhas nas Caraíbas, livros de poesia -- só há lembranças, dor e lentidão, com breves intervalos pelo meio para retomar o fôlego.” “A mágoa é um estado natural. Tem o seu tempo e o seu estilo. Tem até uma estranha beleza. Nós somos feitos para aguentar com ela.”
Para terminar: “ Há esquecimentos tão caros que nunca se podem pagar. Como é que se pode esquecer o que só se consegue lembrar?”


Beijos e sejam felizes...

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