terça-feira, novembro 03, 2009

dos mortos e do dia 1...


A partir de certa altura nas nossas vidas, o desaparecimento do outro coloca-nos perante a nossa própria mortalidade e aí questionamo-nos; que raio de diferença faz ter uma vida decente, trabalhar, ganhar dinheiro, ter uma casa, tentar ser feliz se o fim é sempre igual? Mais cancro, menos cancro, mais AVC, menos AVC, mais ataque cardíaco, menos ataque cardíaco... Porquê passar a vida a lutar e a preocuparmo-nos com as coisas terrenas se nós morremos e tudo isso fica para trás?

Não tenho uma resposta a esta pergunta, no entanto, ainda quero viver muito, muito...

Questionava-me sobre o sentido da morte e da perda, no dia 1 de Novembro depois de estar farto de permanecer a porta do cemitério a vender velas. Questionava-me e observada os ritos das pessoas... Por vezes pareceu-me até, que uma ou outra pessoa cuidava melhor e com mais orgulho da campa do seu falecido, do que da sua presença enquanto pessoa viva que foi. Existe um lado vaidoso no dia 1 de Novembro nos cemitérios, assistisse de uma forma mais ou menos explicita à festa das flores, ao concurso das campas mais bem arranjadas e limpas.

Não consigo compreender, como se pode gastar tanto dinheiro e tanto tempo com uma campa, com a escolha das flores... Será uma forma de expressar o amor, o carinho que sentíamos pelo falecido? Será uma forma de exteriorizar o amor sentido? Será uma forma publica de promover a dedicação que temos por quem morreu? Será... será...

No entanto tenho uma certeza, vivemos mal, terrivelmente mal com a perda, com a morte... Não fomos e ainda não somos educados para viver a tristeza, a morte, a dor... A nossa sociedade ensina-nos a viver a alegria, a felicidade... e depois quando o outro lado nos aparece na vida, ficamos meios tontos... não conhecemos bem aquele sentimento, sabemos apenas que o temos de esconder, do fingir...

No dia 1 de Novembro, assistisse a tudo, a uma dor verdadeira, a conversas de café junto as campas, a comentários ridículos sobre a expressão publica do luto do outro, a saudades genuínas, a festivais de flores, a concurso de campas, a conversas formais... mas no fundo o que todos querem esquecer, ignorar, passar para traz das costas... é que aquelas pessoas, que um dia foram nossas, que fazem parte de nós... nos fazem falta... e nós ainda não aprendemos a viver com a ausência, com a sua morte, com a sua perda...

Como li no jazigo do meu avô: “Aqueles que amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós...” Acredito...

Beijos e sejam felizes...

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