quarta-feira, julho 29, 2009

Maria Rita...

A criança é criativa porque é crescimento e se cria a si própria. É como um rei, porque impõe ao mundo as suas ideias, os seus sentimentos e as suas fantasias. Ignora o mundo do acaso, pré-elaborado, e constrói o seu próprio mundo de ideais. Tem uma sexualidade própria. Os adultos cometem um pecado bárbaro ao destruir a criatividade da criança pelo roubo do seu mundo, sufocando-a com um saber artificial e morto, e orientando-a no sentido de finalidades que lhe são estranhas. A criança é sem finalidade, cria brincando e crescendo suavemente; se não for perturbada pela violência, não aceita nada que não possa verdadeiramente assimilar; todo o objecto em que toca vive, a criança é cosmos, mundo, vê as últimas coisas, o absoluto, ainda que não saiba dar-lhes expressão: mas mata-se a criança ensinando-a a ater-se a finalidades e agrilhoando-a a uma rotina vulgar a que, hipocritamente, se chama realidade.
Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'

Lembrei-me desta minha leitura, após ter passado parte da noite, a brincar com a minha nova “sobrinha” a Maria Rita. Estar com ela, é quase como estar na lua. A sua simplicidade de vida, a sua alegria, irradia… apaixona e transporta cada um de nós para o seu mundo magico…
Não tenho saudades de ser crianças – já que muitas vezes regresso a esse mundo – mas sem duvida foi um dos melhores tempos que vivi… tive uma infância absolutamente feliz… É engraçado como relembro muitos episódios que vivi quando estou com a Maria Rita. O seu sorriso cativa e leva-me para o mundo dela. Sem querer e sem fazer grande esforço, vejo-me a cantar, a fazer macacadas, a brincar com ela…


Obrigado, Maria Rita, fazes-me feliz….


Beijos e sejam felizes…

terça-feira, julho 28, 2009

perdi tempo...

Fazemos contas aos dias que passam e damos conta que passaram os dias sem darmos conta que já não se repetem. Que muitos dias, apesar de cheios de gente que atropelada em ambições, desejos e muita merda sem sentido, se resumem a nada. Damos conta que perdemos tempo! O tempo, se como dizem, é o que fazemos com ele, pergunto eu agora e aqui: quando é que temos a certeza que estamos a perder tempo?

Eu já perdi muito tempo...

Beijos e sejam felizes...

sexta-feira, julho 24, 2009

está a chegar...

Chega de tristezas... de lamentações...

A felicidade está a chegar... é tempo de alegria...

Beijos e sejam felizes...

quinta-feira, julho 23, 2009

ultrapassar ou atravessar?

“Muitas vezes, quando falamos de uma situação difícil, utilizamos a palavra "ultrapassar". Mas a verdade é que não a ultrapassamos. Atravessamo-la. Por iniciativa própria ou não, estejamos preparados ou ainda em preparação, progressiva ou repentinamente, esperadas ou inesperadas, estas travessias fazem parte da vida de cada pessoa. As situações difíceis que atravessamos acabam por nos transformar, quer queiramos quer não. Aí somos confrontados com a nossa impotência e fragilidade, conhecemos o nosso modo de reagir instintivo, o impacto que tem à nossa volta e vamos aprendendo a controlar as nossas reacções. Somos postos à prova e muitas vezes percebemos que temos capacidades desconhecidas para nós.”

Frederico Lemos in essejota

Beijos e sejam felizes…

mãos...

Tenho um fascínio por mãos. Gosto de as olhar e olhar! Olho-as descaradamente... também não há mal nenhum nisso. Costuma dizer-se que dizem muito de nós.... Mas não é isso que busco nelas. Procuro-lhes o seu lado estético. Perguntarão! Ahhh... então tem preferências?! Sim, tenho um ideal de beleza, mas encontro nelas sempre algo que me agrada.

Gosto das tuas mãos…

Beijos e sejam felizes…

quarta-feira, julho 22, 2009

Fim das Festas!!!

E finalizaram as Festas de Santa Marinha 2009, este ano organizadas pelo Agrupamento de Escuteiros. 4 dias de imenso trabalho, mais de 4 meses de muita dedicação e entrega. E o balanço final qual foi? No meu ponto de vista, foi extremamente positivo. E positivo por dois motivos:

1- Porque uma vez mais conseguimos que as Festas de Santa Marinha não acabassem, pegamos na sua organização, convocamos os Pampilhosenses e todos à sua maneira e da forma que acharam mais correcta, corresponderam positivamente à convocação.

2- Porque apesar de todo o trabalho e de todo o desgaste, foi bom ver um agrupamento unido, onde os pais marcaram presença desde o inicio. Em todos os dias dos festejos e em toda a preparação que antecedeu, existiu sempre espírito de equipa, animação, entrega, alegria.

E os lucros? Esses, não falando em aspectos monetários, levamos todos para casa. Levamos os brindes, os sorrisos, os abraços, as conversas ao final da noite, os amanhecer em grupo, as piadas, as picardias, os gestos, a amizade, o carinho… estes são os lucros que levamos destas Festas…

Queremos mais? Suponho que se o lucro que conseguimos obter, se perpetuar pelo ano fora, ganhamos todos, o agrupamento, o movimento a comunidade onde estamos inseridos.

Parabéns a todos!

Beijos e sejam felizes…


sexta-feira, julho 17, 2009

viva... FESTA!!!!

São tempos de festejo. São tempos em que tudo apetece. São tempos em que nos predispomos. Focamos a nossa atenção em pontos diversos dos do resto do ano. Vivemos despreocupadamente, como que esquecendo que daqui a pouco o rame rame se vai de novo instalar!

É tempo de festejar... apareçam na Pampi e venham festejar a padroeira - SANTA MARINHA

Como tão bem disse a Marlene - vamos irradiar alegria...

Beijos e sejam felizes...

Regresso na segunda - depois do fim dos festejos...

quinta-feira, julho 16, 2009

fechar ciclos...


A vida tem ciclos. A nossa tem ciclos que criamos como entendemos ou conforme as expectativas que temos. Vive-se uma fase. Fecha-se um ciclo e estamos dispostos a começar outro. Demora um tempo desde que um se fecha e outro se abre. Há que pensar bem. Fazer novos projectos. Projectar novos desafios. Agarrar a certeza de que é isso que se quer. Não é nenhuma novidade. Já fechei muitos ciclos da minha vida. Já vivi fases que se transformaram em ciclos sempre com a certeza de que para o bem e para o mal, teriam de ser vividos assim. Se me perguntarem, e arrependimento, há? Claro que sim! Mas haveria mais se não tivesse vivido fases que escolhi, e depois nunca saberia onde iria parar o caminho que não escolhi. Todos devemos, porque faz bem, ter a coragem de fechar ciclos. Mesmo que custe, que aparentemente seja o fim do mundo e que se entre num turbilhão de sentimentos. É preciso viver tudo com entranhas para que haja coragem de entrar numa nova história. Vazia. Uma página em branco que vai ser escrita. Com que final? Isso nunca se sabe... e assim é que tem graça.

Não acham?

Beijos e sejam felizes...

quarta-feira, julho 15, 2009

...

O ponto de viragem no processo de crescimento é quando descobrimos o centro da força dentro de nós mesmos, que sobrevive a qualquer sofrimento.”

(Max Lerner)

Está quase...

ser bem disposto...

“Tanta gente me pergunta porque é que eu estou sempre bem disposto que decidi responder. O segredo é que eu também estou sempre mal disposto. Faço é para não estar, não parecer. (…) E como é que eu faço para estar bem disposto, encontrando-me na verdade tão triste e miserável como vocês todos? Há várias técnicas. A mais importante é a técnica do proporcionamento. Consiste em atribuir a uma dado problema pessoal a proporção que tem no mundo. Há gente a sofrer de verdade, a morrer, de fome, de doenças, de terramotos, que o nosso sofrimento, quando é publicamente exibido, é pequeno e obsceno. (…)

Estar bem disposto como indica a própria expressão, não é estar bem. É estar bem disposto. É dispor o que se tem – a cara, os gestos, a roupa – de maneira a parecer bem. Mais bem. Menos mal. Fazer por estar bem disposto é como fazer um ramo de flores com aquilo que se tem em casa. Usa-se o que se tem e faz-se o melhor que se pode. (…) Estar bem disposto não tem nada a ver com estar bem. É estar á disposição das pessoas com quem se está. (…) Estar bem disposto é estar disposto a aceitar que se pode estar, muito, muito, muito, pior. Estar bem disposto é uma mistura de sentido de proporção, sentido de humor, capacidade de disfarce e vontade de ajudar.”

Miguel Esteves Cardoso in Último Volume

E isto a propósito de que? Perguntas tu e muito bem… Este texto surgiu como resposta para algumas pessoas que me questionaram a pessoas que sou e a pessoa que mostro no blog. Qual das duas será a verdadeira?

A resposta é simples, este blog permite deitar para fora, coisas que de outro modo ficarariam sempre para mim. Pessoalmente sou BEM DISPOSTO. Ser feliz… ainda é um grande caminho…

Beijos e sejam felizes…

segunda-feira, julho 13, 2009

aos meus amigos...

Redes, laços, nós... ninguém consegue viver sadiamente de forma isolada. O nosso ser gregário manifesta-se dos mais diferentes modos, sendo que a necessidade dos outros é uma característica permanente dos mamíferos. Nunca nos perderemos, ganhando os outros!

Nestes dias tenho tido maior necessidade dos outros, da família, dos amigos e daqueles seres mágicos e especiais que tornam os meus dias melhores, menos pesados.

A minha vida, está parada, a nível profissional uma indefinição que demora a clarificar, a nível amoroso suponho que desta vez fechei o meu coração ao mundo, farto de situações que mais me magoam do que me libertam e alegram. Só me resta, o melhor da vida, os amigos.

Todas estas situações, fazem com que veja e entenda cada vez melhor, que a amizade é mesmo o melhor sentimento do mundo...

Sem vocês estes dias teriam sido vividos de forma mais dolorosa, mais sofrida... com vocês, tudo tem sido vivido, na alegria, na partilha, na clareza de sentimentos e gestos.

Obrigado... estava mal e foram vocês me me deram uma ABRAÇO!!!

Beijos e sejam felizes...

sexta-feira, julho 10, 2009

é a vida...


A vida é assim... Melhor ou pior é a nossa e ninguém nos dará outra! Essa é que é uma certeza adquirida. Podemos é mudá-la para mais assim ou menos assim...! Há algo que está nas nossas mãos. Não tudo, não nos iludamos, mas alguma coisa há que nos compete fazer. A apatia sempre se pagou caro.
Hoje estou assim, com vontade de romper com o meu passado.

Beijos e sejam felizes...

terça-feira, julho 07, 2009

"Não, não é cansaço... É uma quantidade de desilusão que se me entranha na espécie de pensar."

vou guardar o teu sorriso...

Percorro de memória as linhas do teu sorriso de um traço sonhador e um leve travo a saudade.

São como um convite esses lábios que enfeitiçam, murmuram desejos, insinuam promessas e incendeiam a vontade!

Percorro de memória esses caminhos que foram meus e que sei de cor ainda.

E por momentos fico assim, perdido na lembrança delinear de um beijo...
Beijos e sejam felizes...
Beijos e sê feliz...

segunda-feira, julho 06, 2009

coração a bater...


De que falamos quando falamos de amor? Falamos de paixão, ou falamos de um amor que tem que ser? Eu gosto de paixão. A dois, não a imagino isolada. Quero-a nova, fresca, sem marcas do tempo "isso é difícil", dizem alguns, "com o tempo isso passa" dizem outros... Que comodidade absurda de quem está na vida apenas a vê-la passar! Gente que não corre riscos, que vive confortável nos gestos seguros. De que nos serve um coração forte e pleno se não o usarmos da melhor forma. Se o atrofiamos com os mesmos gestos rotineiros e cinzentos só porque são horas ou está no calendário? Um coração serve para me fazer sentir vivo. Gosto de o sentir bater ritmado mas com força e vontade. Não entendo de outra forma. Por isso quando falo de amor, falo de paixão, coração e de tudo o que lhe vai dentro. De que falamos quando duas pessoas que se amam falam todo o dia sem dizer nada? Falamos de quê? De gente idiota que não aproveita a oportunidade, de gente arrogante que vive só virada para si ou falamos de rotina? Não gosto de rotina. Não a admito e muito menos a alimento. O meu coração vomita-a, ou então não lhe abre a porta. É disso que eu falo quando falo de amor. Falo de conversa apaixonada, desejos, sonhos, ciúmes, brigas e reconciliações...
Posso só dizer disparates, mas quando falo de amor. Falo. Não deixo que o façam por mim!
Faz-me falta!

Beijos e sejam felizes

Nota: este post não é da minha autoria, mas sim no blog: euclaudio.

ainda o ministro...


Não achei correcto o gesto do ex-ministro da Economia Manuel Pinho, mas também não acho que houvesse necessidade de tanto mediatismo. Uma vez mais, em Portugal dá-me mais valor a estas coisas, do que discutir com clareza o essencial. Hoje transcrevo um post do blog do jornalista Luis Castro que ilustra bem como com a maior das facilidades uma pessoa vai de bestial a besta.
Enfim… é o pais que temos.

Pinho A.C. (antes dos chifres)

Era um mau ministro.
As gaffes sobrepuseram-se às suas capacidades governativas.
Foi motivo de chacota.
Pediram-lhe a demissão vezes sem conta.

Pinho D.C. (Depois dos chifres)

Pinho foi um ministro muito esforçado – Pacheco Pereira
Pinho foi um bom ministro – Jornalistas de economia
Pinho trabalhava 16 horas por dia e deixou Portugal no mapa – Van Zeller

Einstein disse um dia:

“A fama é para os homens como os cabelos:
Cresce depois da morte, quando já lhe é de pouca serventia”

sexta-feira, julho 03, 2009

gente arrojada...


As coisas por vezes não são o que parecem. Quase nunca aliás! As pessoas não são o que julgam ser e nem nós próprios somos o que fazemos parecer... Existem surpresas em cada gesto, em cada dia, em cada acção... Gosto de ser surpreendido, gosto de surpreender e não falo de presentes embrulhados em papel colorido com um laço enorme. Gosto de atitudes que me surpreendam, por vezes chego a ser tão masoquista que gosto de uma ou outra desagradável surpresa para saber como lidarei com ela... faço-me entender?

O que quero mesmo é não deixar a minha vida cair numa rotina idiota, que é feita à custa de falsos pudores. Por vezes, longe de todos os olhares há gente que se mete à prova. Gente que gosta do desafio, de andar no fio da navalha. Acho que no fundo todos gostam disso, só que uns assumem, outros escondem-se e há ainda os que além de assumir os seus riscos resolvem corrê-los, seguros que em nada abalam a sua maneira de ser ou de estar na vida.

Eu sou daqueles que arrisca. Eu sou daqueles que acha que vale a pena fazer um dia diferente do outro. Se tu conseguires seres assim... É muito bom!
Para nós e para o mundo. O mundo só tem a ganhar com gente arrojada!

Vamos ser arrojados...

Beijos e sejam felizes...
"A ti, que tanto me deste e tudo me tiraste...!"

quinta-feira, julho 02, 2009

as asas de Deus...


O post anterior, de dia 1 de Julho, falava do perdão de Deus e das asas que cada um de nós tem. Hoje recebi um comentário de um padre amigo (Pe. Luís Miranda) com um texto que fala exactamente dessas asas. Sem autorização do próprio, atrevo-me a partilhar esse belíssimo texto em forma de oração.

Senhor, dá-me uma asa de reserva…

Senhor, quero agradecer-te o dom da vida.
Li algures que os homens são anjos com uma só asa:
podem voar somente quando abraçados.
Às vezes, Senhor, nos momentos de intimidade ouso pensar,
que também tu tens só uma asa.
A outra, tem-na escondida: talvez para me fazer compreender
que também tu não podes voar sem mim.
Por isso é que me deste a vida: para que eu fosse o teu companheiro de voo.
Então, contigo, ensina-me a manter o equilíbrio.
Pois viver não é “arrastar a vida”, não é “arrancar a vida”, não é “roer a vida”.
Viver é abandonar-se na aventura da liberdade.
Viver é distender a asa, a única asa, com a confiança de quem sabe
que és tu o seu grande companheiro de voo!
Senhor, peço-te perdão por cada pecado contra a vida.
Mas também te peço perdão, por todas as asas que não ajudei a distender.
Pelos voos que não soube encorajar.
Pela indiferença com que deixei a esgaravatar no pátio,
o irmão infeliz de asa descaída e que tu tinhas destinado a navegar no céu.
E tu esperavas em vão, por um voo que não se chegou a realizar.
Agora, Senhor, ajuda-me a dizer que colocar alguém no mundo não é tudo.
É preciso colocá-lo na luz.
E que anti-páscoa não é só o aborto, mas é cada acolhimento falhado.
É cada negação de pão, de casa, de trabalho, de instrução, de direitos primários.
Anti-páscoa é deixar o próximo no melancólico vestíbulo da vida,
onde “se vive apenas por viver”, onde se vegeta somente.
Anti-páscoa é passar com indiferença perto do irmão cuja asa, a única asa,
ficou inexoravelmente presa na rede da miséria e da solidão e por isso,
está convencido de já não ser digno de voar contigo.
Sobretudo, para este irmão que não tem sorte,
dá-me, ó Senhor, uma asa de reserva.

(Dom Tonino Bello)

Este texto-oração, faz me recordar a leitura da Eucaristia de ontem. Retirada do Livro do Génesis, o texto falava do pai dos crentes Abraão, da sua esposa Sara e do seu filho Isaac, mas também falava do filho da escrava - Ismael e como este Deus em situações diferentes, foi misericordioso para com todos.

É infinita a misericórdia de Deus, em cada tempo, em caso, Deus olha cada filho e percebe os seus problemas e “ampara” com a sua asa. Nós tendemos vezes demais, a fazer um auto-julgamento e afastamo-nos deste Deus escondido, mesmo à frente de todos. Mas acredito que Deus não esquece cada filho, não julga, não marginaliza. Mas acolhe, ampara, protege. Talvez seja mesmo esta a grande lição que temos de tirar, nós precisamos de Deus e Deus precisa de nós, juntos conseguimos mais.

Deus é amor e misericórdia, quando compreendermos perfeitamente esta verdade, seremos todos manifestamente mais felizes.

Beijos e sejam felizes...

quarta-feira, julho 01, 2009

sobre o perdão...

Entramos aqui, nesta palavra perdão, num mar tão fundo e tão denso, que o único pressuposto que me permite falar sobre ele é o facto de já ter sido perdoado. E quem já foi perdoado sabe do que é que estou a falar. O que é ser perdoado? No fundo, acredito não ser capaz de dizer muito acerca disto, porque aliás, pode-se dizer muito e não dizer nada. Falo então a quem já foi perdoado. A quem já errou, já desiludiu, já falhou, e há-de continuar a fazê-lo.

Ser perdoados é, por muito que nos custe, ser confrontado com a nossa finitude e incapacidade. Não é reduzirmo-nos à insignificância, nem abstermo-nos pela nossa incapacidade, mas sim reduzirmo-nos ao que somos. “Para Deus sobe-se descendo” (S. Francisco Xavier), foi o recado dado, mas provamos que somos tão pequenos, quando no perdão que nos é dado, vemos uma última hipótese, vemos uma incapacidade de sermos mais. Porque, parece-me, este é que é o mal de quem não gosta de ser perdoado, o de achar que sozinho se safa, de que sozinho é capaz.

E então, como respondemos a quem nos perdoa? Normalmente com promessas: “Da próxima vez não o faço”, ”vais ver que vou mudar”, etc. E acrescentamos a mentira ao mal que já fizemos. A mentira sim, porque se levantássemos a cabeça e olhássemos a nossa história, veríamos tantas vezes o mesmo erro. O problema é nós não conseguirmos compreender aquilo que não somos capazes de fazer.

O perdão de Deus é assim um absurdo aos nossos olhos. Acreditar que é no erro, no falhanço, na tão vivida vergonha, que somos chamados de filhos desconcerta-nos. Insistimos, então, na pequenez e encaramos o perdão com desconfiança, ou melhor, com contrapartida. “É só mais esta vez, que eu não perdoo mais”, ”olha que assim não vais lá… Talvez se…”. Fazemos da vida uma prova de obstáculos e não aceitamos o que nos é dado. Esquecemos que pecamos quando tentamos ser maiores do que realmente somos e o perdão, o de Deus pelo menos, é um acto de amor para com o que sobra de uma alma arrependida, e tantas vezes mal tratada. Falhamos e, numa justiça de talião, procuramos dar a nós próprios um castigo proporcional ao que julgamos que fizemos. Deixar-se perdoar é deixar-se Amar e ainda não temos o poder de dizer a Deus se nos deve ou não Amar.

Há pouco tempo, ouvi uma metáfora que muito me agradou. Um ateu seria alguém que acredita ter nascido sem asas ou com duas asas, dependendo se for pessimista ou optimista. Um cristão é alguém que acredita que Deus o criou apenas com uma asa. Estamos assim procurando a outra asa naquilo que o Senhor nos reservou, nos outros que o Senhor nos reservou.

Se comecei com uma citação de um santo, acabo com a de outro, que muito diz sobre o que somos, sobre o quanto precisamos dos outros e sobre o perdão: “Conservai a Vossa mão em cima da minha cabeça, Senhor, doutro modo Filipe, sem a vossa ajuda, faz alguma das suas” (São Filipe de Néri).

Que faço às minhas humilhações? Escondo-as? Ou entrego-as a Deus esperando assim a humildade?

Beijos e sejam felizes...

Texto escrito pelo irmão Manuel Vilhena - Companhia de Jesus